(francotiradores do exercito vigiam o palacio presidencial bombardeado, que ainda resistia com Allende dentro)Com o suicídio de Allende no mesmo dia do golpe morreu também a Fé que muitos movimentos populares tinham na democracia e justificou ainda mais a ação violenta e a guerra de guerrilhas como meio para a Autodeterminação Latino-Americana. Também começou a lenta e gradual morte cultural duma nação, onde qualquer sinal de expressão e criatividade era suspeita e subversiva.
Começavam assim os ‘anos de chumbo’ para qualquer que se preocupava com o bem comum e não no lucro e sucesso individual, num ambiente hostil à liberdade de pensamento, onde divulgar um panfleto era suficiente para ser torturado por meses e muitas vezes a luta pela democracia foi na rua e com fuzil na mão. Essa luta que em 1988 gero seu maior fruto ao acabar com a ditadura com uma votação popular, mas que se ganhou porque a ditadura se tornou inviável por meio de atos de rebeldia e desobediência dos que lutavam por outra maneira de viver.Hoje o 11 de setembro foi um dia que se demonstrou nas ruas que o povo chileno resiste a esquecer os anos de fascismo. Resiste a deixar a ditadura militar como parte do passado histórico, e se nega com ênfase a “passar a pagina”. O que se pede nas ruas é o tão gritado hoje: “Ni perdón Ni Olvido!”. Se pede que antes de passar a pagina, se leia de uma maneira diferente essa pagina, cicatrizando as feridas, respondendo aos centos de desaparecidos, que os opressores sejam condenados, que a democracia retorne plenamente como sistema e que os políticos não se esqueçam que governam em nome de um povo que sacrificou vidas para poder escrever DEMOCRACIA, LIBERDADE e IGUALDADE.
(estatua de Allende com algumas das coroas em sua homenagem)
Foi nesse momento em especial que as feridas dos anos de fascismo saíram ao ar numa sociedade onde ainda não consegue superar o golpe: um pedreiro e líder de uma ocupação popular onde os dedos tinham sido quebrados até ficarem inúteis, uma mulher que de um só chute nas costas tinha ficado paralitica da cintura para baixo, um cego, que de tantos socos a córnea dos 2 olhos tinham se descolado. Milhões de historias de morte e tortura foram se revelando cada vez que alguém colocava uma flor na estatua.
A noite nos bairros mais “populares” o 11 de setembro teve um caráter de reivindicação social e confrontação direta, muitas vezes armada, contra o atual governo que não os representa politicamente, mas que esta presente com todas as instituições repressivas, legais ou ilegais. Demonstrando que ainda há muito para se recuperar o que se perdeu há 35 anos. Barricadas nas ruas e ataques aos símbolos do capitalismo e da alarmante desigualdade social foram os casos mais ocorrentes.“Não estamos todos na rua, faltam os desaparecidos e os presos políticos de ontem e hoje.”
ARRIBA LOS QUE LUCHAN!
Critilo²
A globalização é o atual processo em que o capitalismo se encontra, é uma pseudo evolução do Neoliberalismo, conseqüente do final da guerra fria e hegemonia dos EUA. É por meio deste processo que a cultura regional é substituída por uma cultura artificial, que existe em todos os países, mas não representa ninguém.


Na semana de “Calma”, contatos com 8 organizações sociais e sindicatos (como a CUT, o colégio de professores, o de transporte e de saúde) foi combinada uma paralisação e 4 marchas que chegariam até a Praça Itália. Mas a Intendência de Santiago desrespeitou a constituição chilena (art.19 §13) “ O direito à reunião pacifica e desarmada sem aviso prévio nas praças, ruas e demais lugares de uso publico” e negou tanto as 4 marchas quanto a concentração na Praça Itália. Ao chegar as 10 da manha na Praça Itália havia ao redor de 200 estudantes que aguardavam á chegada das demais instituições. Cerca de 1 hora depois chegaram e a marcha começou liderada pelos professores, mas não durou mais de meio quarteirão pois um jato d’água da policia que molhou os que estavam na frente ‘abriu’ o inicio da repressão à marcha, ônibus cheios de policiais chegavam, mais de 20 blindados lançando gás 5 carros lança-água e mais de 20 cavalos investindo nos manifestantes. Após aproximadamente 30 minutos de caos e de tentativa de continuar a marcha independente do operativo de guerra montado pelas forças especiais se decidiu fazer o reencontro na avenida Alameda a uns 5 quarteirões do palácio presidencial. Desliguei-me da massa para passar despercebido pelos vários blindados que circulavam e dos pontos de controle da policia nos pontos de acesso a avenida.
Após o final do discurso do presidente da CUT e do colégio de professores se leu uma carta da Assembléia de estudantes, que foi encerrada pelo recomeço da repressão. Vários jatos d’água carregados com químicos que tem o efeito similar ao gás lacrimogêneo, mas mais potente, banhavam a multidão que corria procurando uma brecha nas barreiras montadas pela policia. Finalmente as barreiras foram derrubadas e a multidão se esparziu pelas ruas laterais, fazendo barricadas e pequenas emboscadas com “Pingüins” jogando bombas de pintura nos blindados.
No total foram presas mais de 154 pessoas, 700 granadas de gás lacrimogêneo foram lançadas e 2 fotógrafos foram feridos. Cada dia percebo mais o preço que a juventude latino americana tem que pagar a custa do lucro e do beneficio de poucos. “America latina está plantada pelos ossos e sangue dos nossos jovens” diz uma canção que de vez em quando escuto por ai.




Hoje foi um dia que determinou as mobilizações na escola Altamira. Após uma reunião Sábado com a diretoria, onde foi proposta uma alternativa ao paro indeterminado votado pela maioria dos alunos da escola. A proposta foi chamada de “mobilización permanente” e era mais um projeto social com caráter paternalista (mais ou menos dizendo: “coitados os pobres! Eu, que sou melhor, posso fazer a boa ação do dia e ir dormir tranqüilo”) que procurava uma apertura da escola para o resto da comunidade, a apertura é um objetivo valido que valoro muito (tanto, que vamos abrir a escola para todos na toma) mas a proposta tem pouco a ver com as mobilizações atuais em rechaço a lei que regulara a educação no Chile para os próximos 30 anos. O principal problema com essa proposta era que se substituía a mobilização estudantil pelo projeto social. Propus varias vezes levar em paralelo os dois projetos, coisa possível, mas a diretoria tinha especificamente criado essa alternativa de projeto social com a intenção de “conter as mobilizações estudantis” como diz uma carta do centro de pais da escola.
Decidiu-se então fazer uma votação para decidir se aceitávamos a alternativa da escola e deixávamos as mobilizações ou continuávamos sem a aprovação da diretoria. Entre as 5 opções de voto (Nulo, a proposta da diretoria, um paro com aula em paralelo, um paro geral sem aula ou uma ocupação) a diretoria não autorizaria nem um paro em paralelo e menos ainda um paro geral, tendo, no meu ponto de vista, ou aceitar a proposta ou ocupar a escola como as únicas opções viáveis para continuar.








